Chapter 140: Capítulo 140: Perdoe-nos grande Mira!
— Bom dia! — disse Ravena, entrando animada no refeitório.
— Bom dia! Acordou cedo de novo! — respondeu Mira, que estava na cozinha mexendo algo em uma panela.
— É que desta vez eu quero tentar! — disse Ravena, se aproximando com um olhar determinado.
— Tentar o quê? — perguntou Mira, curiosa.
— Beber um pouco daquele café. Quero entender por que o Kay gosta tanto, mesmo sendo um ghoul! — respondeu Ravena, com um leve sorriso travesso.
Mira parou o que estava fazendo e virou-se para ela, franzindo o cenho.
— Isso vai te fazer mal, você sabe que tem noxium nele! — alertou Mira.
— Só um gole não faz mal... — insistiu Ravena, cruzando os braços com teimosia.
Mira suspirou profundamente, levantando as mãos em rendição.
— Tudo bem, mas eu não me responsabilizo! — disse Mira, indo até o balcão para pegar uma bandeja com xícaras e uma garrafa térmica.
Ela saiu da cozinha e colocou a bandeja sobre a mesa à frente de Ravena. Com cuidado, serviu uma pequena quantidade na xícara de Ravena.
Ravena segurou a xícara com as duas mãos, olhando para o líquido fumegante.
— Boa sorte... — disse Mira, observando-a com um meio sorriso de curiosidade e preocupação.
Ravena virou a xícara de café de uma só vez, sem hesitar.
— Está quente! — exclamou Mira, preocupada, enquanto observava a ousadia da garota.
— Gostoso! — respondeu Ravena, empolgada, com os olhos brilhando.
— Não queimou?! — Mira perguntou, incrédula.
— É muito gostoso! Mas por quê? Eu já tomei café antes, mas esse parece diferente! É a melhor coisa que já provei! — disse Ravena, quase saltando de emoção.
— Obrigada... — respondeu Mira, ainda confusa com a reação.
— Não está sentindo dor? Não está com vontade de vomitar? — perguntou Mira, franzindo a testa.
— Não! Eu estou é animada! Me dá mais um pouco? — pediu Ravena, estendendo a xícara com entusiasmo.
— Pega leve! Deve ter o mesmo efeito no Kay. Se for assim, talvez você consiga comer comida normal agora! — comentou Mira, olhando para Ravena com curiosidade.
— Eu vou sentir o gosto? — Ravena perguntou, agitando a xícara em expectativa.
— Já entendi, já entendi. Só mais uma xícara, e nada mais! — respondeu Mira, rendendo-se ao entusiasmo de Ravena.
Mira serviu mais uma dose de café, e dessa vez Ravena bebeu devagar, saboreando cada gole.
— Eu vou levar um pouco para minha mãe e para o Kay. Se quiser, tem bolo na cozinha. — disse Mira, enquanto recolhia a garrafa térmica.
— Eu vou pegar um pedaço! — respondeu Ravena, levantando-se da mesa.
— Fique à vontade. — Mira se retirou, carregando a bandeja enquanto Ravena caminhava em direção à cozinha.
A cena muda.
Mira seguia pelo corredor do castelo, cumprimentando os soldados que cruzavam seu caminho. Ao chegar no corredor do quarto que agora era ocupado por Kay e ela, empurrou a porta com cuidado.
— Você acordou! Eu trouxe café para nós! — disse Mira, entrando no quarto com um sorriso, segurando a bandeja.
— As crianças estão com sua mãe. Faz um favor para mim, amor? — pediu Kay, enquanto pegava a bandeja das mãos dela com gentileza.
— Claro, o que você precisa? — respondeu Mira, ajeitando o cabelo enquanto olhava para ele.
— Hoje vamos visitar aquele reino com os humanos. Consegue separar algumas coisas para levarmos e acordar a Emilia para ir também? — disse Kay, colocando a bandeja sobre a mesa do quarto.
— Tudo bem, mas só depois que eu pegar meu traje! — disse Mira, já se virando para sair.
— Não precisa, amor. Só avise a Emilia. Vamos partir depois do café. — respondeu Kay, sorrindo tranquilamente.
— Tá bom! — disse Mira, acenando e voltando pelo corredor.
— Obrigado! — Kay agradeceu, observando-a sair.
— De nada! — respondeu Mira, jogando um último olhar para ele antes de desaparecer no corredor.
Assim que Mira se afastou, Kay fechou a porta e criou uma cópia de si mesmo.
— Seja rápido. — ordenou Kay, olhando para o clone.
— Certo! — respondeu a cópia, antes de desaparecer em um piscar de olhos.
Kay suspirou e voltou para dentro do quarto, o olhar tranquilo, mas cheio de determinação.
A cena muda novamente.
— Ei, Lavel, a Emilia já está acordada? — perguntou Mira, enquanto mexia em seu celular.
— Ainda não. Mas a Himitsu já está se arrumando. — respondeu Lavel, a voz soando pelo dispositivo.
— Obrigada! — disse Mira, encerrando a conversa.
Mira foi até o quarto de Emilia. Assim que entrou, encontrou a princesa dormindo tranquilamente, o rosto sereno contrastando com o caos usual do castelo.
— Ela dorme assim mesmo? — exclamou Mira, cruzando os braços enquanto olhava para a cena.
— Sim! Hoje até que está bem normal. Você devia ver quando ela se mexe dormindo, parece uma batalha! — respondeu Himitsu, rindo baixinho.
Mira aproximou-se da cama e sacudiu levemente Emilia pelos ombros, chamando-a suavemente.
— Mira...? Bom dia... — murmurou Emilia, ainda sonolenta, os olhos piscando lentamente.
— O Kay quer sair com você depois do café. Vai se arrumar, ele está esperando. — disse Mira, com um leve sorriso.
Emilia levantou-se num salto, como se a energia tivesse sido restaurada de repente.
— Diga para ele que eu não vou demorar! — respondeu, correndo apressada para o banheiro.
Himitsu observou a cena com uma sobrancelha levantada.
— Vocês agem estranho quando se trata dele. Para ser sincera, ele nem é tão bonito assim. — comentou ela, cruzando os braços.
— Você acha? O Kay é bem desejado pelas garotas. — disse Mira, sem esconder um pequeno tom de orgulho.
— Todas vocês também são bem populares. — Himitsu retrucou, num tom casual.
— Eu já sou mãe e sou casada. Não tenho interesse em outra pessoa. — afirmou Mira, ajeitando o cabelo e lançando um olhar firme.
— Entendo. — Himitsu respondeu com um leve aceno de cabeça.
Mira começou a sair do quarto, mas parou à porta.
— Eu vou voltar na frente. O Kay deve anunciar alguma coisa hoje, então peça aos soldados para ficarem no refeitório.
— Pode deixar! — Himitsu respondeu prontamente.
Mira saiu pelo corredor com passos rápidos.
Cena muda.
No quarto de Mira e Kay, uma cena incomum se desenrolava. Mira abriu a porta e encontrou Kay e Rem de joelhos, ambos visivelmente desconfortáveis, como se fossem crianças pegas no flagra.
— O que vocês estão fazendo? — perguntou Mira, estreitando os olhos ao encarar os dois.
— Fala você! — sussurrou Kay, virando o rosto para Rem.
— Fala você! — sussurrou Rem de volta, ainda mais nervosa.
No berço, Yuta e Alice estavam acordados, observando a situação com curiosidade infantil. Mira olhou ao redor e percebeu algo estranho. A cama estava arrumada, impecável, embora Kay tivesse acabado de acordar.
— Ele estava dormindo... e foi para cima de você? — perguntou Mira, com um tom de incredulidade.
— Imaginei que era isso. Isso acontece sempre? — perguntou Rem, desviando o olhar, visivelmente desconcertada.
— Quando conseguiu impedir ele? — Mira continuou, cruzando os braços.
— Até o momento que ele acordou. — respondeu Rem, com um suspiro resignado.
Kay suava frio enquanto sentia a tensão crescer na sala. "Intenção assassina... Ela vai me matar!" pensou, engolindo em seco.
No berço, Alice soltou uma risada inocente, como se achasse toda a situação hilária.
— Deixa quieto. Foi erro meu não ter avisado sobre isso. — disse Mira, suspirando profundamente.
— Você não está preocupada em ter outro filho? — perguntou Rem, ainda tentando entender a situação.
— Esse idiota aqui é quase infértil. — respondeu Mira, puxando a orelha de Kay sem piedade.
— Por ter virado ghoul? — perguntou Rem, intrigada.
— Eu posso resolver isso mudando um pouco meu sistema reprodutivo... ou bebendo mais café para assumir uma forma humana. — explicou Kay, tentando manter a compostura.
— Tem sido assim todo dia? — perguntou Rem, franzindo a testa.
— Mãe?! — exclamou Mira, envergonhada, o rosto ficando vermelho.
— Eu só fiquei preocupada! — respondeu Rem, desviando o olhar.
Mira suspirou, cansada da situação.
— Carrega ela até a cama. — ordenou Mira, olhando para Kay.
— Sim. — respondeu Kay, obedecendo prontamente enquanto carregava Rem para a cama.
Assim que Rem estava acomodada, Mira pegou Yuta e Alice do berço.
— Minha mãe está sozinha desde que meu pai morreu, então agora assuma a responsabilidade! — disse Mira, saindo do quarto com uma expressão irritada.
— Hein?! — exclamaram Kay e Rem ao mesmo tempo, atônitos.
— Se resolvam, mas não permito que finjam que nada aconteceu! — disse Mira, batendo a porta ao sair.
Kay sentou-se na cama, mantendo uma distância respeitosa de Rem. Um silêncio constrangedor tomou conta do quarto.
— Só para você saber... eu tentei impedir. — disse Rem, quebrando o silêncio, ainda visivelmente desconfortável.
— Me desculpa. — respondeu Kay, abaixando a cabeça.
— Não precisamos fazer o que a Mira quer. Podemos simplesmente fingir que isso nunca aconteceu, certo? — exclamou Rem, tentando soar convicta, mas o leve tremor em sua voz a denunciava.
Kay suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— E correr o risco de ela ficar sem falar comigo? Sabe muito bem como a Mira é! — respondeu ele, num tom exasperado, mas também com uma ponta de resignação.
Rem desviou o olhar, sentindo o peso da situação.
— Mas isso significa que... — começou ela, hesitante.
Kay olhou diretamente para ela, seus olhos carregando uma seriedade incomum.
— Que vai ser complicado. Muito complicado. — disse ele, com um sorriso de canto, misturando determinação e desconforto.
"Complicado é pouco para descrever isso", pensou Rem, tentando ignorar a aceleração do próprio coração enquanto o silêncio pairava entre os dois.
— Me desculpa, Rem. Eu nunca teria feito isso se soubesse que era você! Você sabe disso! — disse Kay, com a voz carregada de arrependimento.
— O que quer dizer com isso? — exclamou Rem, estreitando os olhos em desconfiança.
— Você sabe... tudo que já vivemos. Você me viu crescer, cuidou de mim. — Kay abaixou o olhar, as palavras saindo hesitantes.
— Onde está querendo chegar? — retrucou Rem, irritada, cruzando os braços.
— Você tem a idade da minha mãe! — soltou Kay, como se isso explicasse tudo.
Rem fechou a mão em um punho e o encarou, furiosa.
— Eu te daria um soco agora mesmo, mas... nós dois erramos. Não vou te culpar sozinha por isso! — disse ela, suspirando, ainda irritada.
Kay aproveitou a deixa para segurar a mão dela, um gesto inesperado que a deixou ainda mais confusa.
— O que foi agora? — perguntou Rem, franzindo o cenho.
Kay não respondeu de imediato. Apenas apertou sua mão com firmeza, mas sem machucá-la.
— O que você está fazendo?! — insistiu ela, cada vez mais irritada.
— Agora consegue andar. — Kay sorriu levemente, levantando-se.
Rem olhou para ele, perplexa. Ao mexer as pernas, percebeu que realmente o desconforto havia desaparecido.
— É verdade! O que você fez?! — perguntou, olhando para suas próprias pernas como se fossem novas.
— Mágica! — respondeu Kay, com um sorriso brincalhão.
— Algum tipo de ponto de pressão? — questionou Rem, ainda tentando entender.
— Fui mais rápido do que você. Injetei um "veneno" que alivia o desconforto no corpo. — explicou ele.
— Veneno?! — exclamou Rem, quase levantando a voz.
— Sim. Aquele general ghoul, lembra? Ele não tinha pleno conhecimento da própria habilidade. Ele podia criar venenos com efeitos variados, bons ou ruins. Eu também posso fazer isso. — disse Kay, calmamente.
Rem o encarou, absorvendo a informação.
— Então isso significa que você pode criar... remédios? — perguntou ela, intrigada.
Kay assentiu.
— Posso. É um pouco diferente, mas funciona assim: se eu ingerir um pouco do sangue de um humano doente, meu corpo processa a substância e cria uma solução para combater o vírus. Depois, posso transformar essa solução em um remédio eficaz.
— Qualquer doença? — Rem perguntou, impressionada.
— Até agora, não encontramos nada que não possa ser curado. Claro, pode existir algo mais perigoso por aí, mas os ghouls são uma raça em constante evolução. Mais cedo ou mais tarde, encontraríamos uma cura. — explicou Kay.
— Interessante esse corpo seu, senhor "imortal"! — disse Rem, em tom de provocação.
— Imortal? Eu não envelheço, mas ainda posso morrer. Se quiser, pode virar ghoul também. Assim, manteria essa aparência para sempre até o fim. — brincou Kay, com um sorriso irônico.
— Quero não, obrigada! Tenho que envelhecer junto com os outros. Sei que você vai ficar triste, mas nem pense em morrer antes de exterminar todos os ghouls ruins! — disse Rem, apontando para ele.
— Prometo que não. — Kay respondeu, sincero.
Rem suspirou, mudando de tom.
— Chega disso. A Mira deve estar fervendo de raiva porque estamos demorando. Vamos esquecer o que aconteceu. Vai ser melhor para todos.
— Concordo. — disse Kay, sem hesitar.
A cena muda.